Sim, quando se trata de recursos naturais, o Brasil é o grande vencedor. Medalha de ouro em quantidade de água (cerca de 13% da água potável disponível no planeta), em biodiversidade (quase 20% das espécies vivas), em florestas (cerca de 60% da maior floresta tropical úmida, a Amazônica). Mas, na direção oposta, somos também grandes competidores: alto índice de desmatamento (a Mata Atlântica está reduzida a míseros 5 ou 6% da área original – tendo como parâmetro o descobrimento oficial, 1500 -, a floresta Amazônica está sofrendo um desmatamento equivalente a uns três mil metros quadrados por hora), poluição atmosférica crescente (milhares de toneladas de carbono originárias das queimadas, dos motores a combustíveis fósseis, das fábricas) etc.
Fixemo-nos, por ora, no enorme desperdício da água. A metade da água distribuída é desperdiçada, quantidade que daria para abastecer a França, Bélgica, Suíça, Norte da Itália e Holanda, ao mesmo tempo, conforme atesta o teólogo, filósofo e ecologista Leonardo Boff. Ressalta, ainda, que, para que seja produzido um quilo de carne bovina, são gastos 15 mil litros de água; para um quilo de vegetais, mil e 300 litros. Um ovo nos custaria mais de mil litros.
Apenas 3% da água existente no planeta são potáveis e somente 0,75% está acessível para consumo humano e utilização agrícola e industrial. A maior parte, cerca de 70%, vai para a irrigação e produção agrícola e para a agroindústria. As indústrias utilizam a média de 20% e 10% são utilizados nas casas. O maior desperdício vem na má utilização, distribuição irregular e poluição da água urbana e industrial. As construções e vias impermeabilizam o solo, cerca de ¼ parte da água tratada e distribuída se perde em vazamentos, entre o fornecedor e as torneiras do consumidor. A destruição da cobertura vegetal, principalmente a eliminação das matas de topo, alteram radicalmente a distribuição dos reservatórios. A falta das matas ciliares permite que as águas escorram em velocidade inconveniente para os cursos principais, provocando assoreamentos e não raramente enchentes no período de chuvas e escassez no período de secas.
O excesso de agrotóxico utilizado nas lavouras, além de contaminar lençóis freáticos, escoa com rapidez, água abaixo, contaminando cursos de água. Idem, no que se refere ao lixo irregularmente atirado no ambiente. As queimadas ressecam e aquecem em demasia o ar, alterando os ciclos dos ventos e das chuvas. As conseqüências: desertificação, tempestades tropicais e extratropicais anômalas, secas em um dos pratos da balança, com temperaturas extremamente altas, e esfriamento em outro, com tempestades de neve, inundações etc, etc.
Hoje, perto de 70% das internações hospitalares e doenças tratadas têm origem em veiculações hídricas, ou seja vêm da água ou de sua carência. Mais de 2 bilhões de humanos, dos 6 que habitam o planeta, padecem pela falta ou má qualidade da água, segundo dados da ONU, que também adverte que essa proporção crescerá, em menos de vinte e cinco anos, para 2/3 do contingente populacional.
A água, também segundo dados da ONU, mata, pela má qualidade, dez vezes mais que as guerras armadas. Informa que cerca de 70 conflitos existem hoje pelo acesso a esse precioso líquido. O grande tesouro do século atual se degrada rapidamente. Nós estamos sofrendo as conseqüências da degradação. Sofreremos cada vez mais, enquanto não soubermos aproveitar bem tão precioso. Sem dúvida, estamos deixando escapar pelos ralos uma riqueza inestimável. Nossos descendentes nos cobrarão essa dívida.
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